domingo, 10 de janeiro de 2016

Por Trás da Máscara: O Quarto Mundo de Jack Kirby.


Aproveitando que foi revelado o vilão do novo filme da Liga da Justiça, decidimos fazer o PTDM dessa semana para explicar um pouco mais sobre ele e se onde veio.
Primeiro eu preciso dizer que foi muito difícil escolher o nome para o título desse post, "Por que? Era um título completamente óbvio!", não, não era. Eu procurava uma ideia para expressar a importância e grandiosidade que é essa criação, procurava um jeito de fazer uma referência, uma comparação que gerasse a proximidade entre o texto e as pessoas que não fazem parte desse mundo dos quadrinhos. Pensei em um certo número de metáforas, como Homero e a Ilíada,  mas então desisti. Por mais que transmitisse a intensidade que eu procurava decidi não fazê-lo, pois ainda há entre nós muitas pessoas de mente fechada, que não conseguem enxergar todas as formas de arte. Mesmo assim tentarei fazê-los compreender como a mente de Kirby funcionava e como ele se mantinha a frente do seu tempo. A frente do nosso tempo, pois além de suas criações durarem até hoje, elas serão consagrada através de muitas décadas mais. Ele sempre existirá, sempre será lembrado. Mesmo hoje 21 anos após sua morte suas criações ganham cada dia mais o peso da filosofia que os foi encarregado de propagar.
Kirby colocava em suas histórias várias referências externas e devido ao grau de intelectualidade de suas obras, elas foram simplificadas diversas vezes para caberem no formato do padrão das editoras para as quais historias escrevia.
O conceito do qual vamos falar hoje hoje é sobre o Quarto mundo e Novos Deuses. Como sempre, no núcleo da trama vemos a eterna luta do bem, representado por Nova Gênese e o mal, Apokolipse. Precisamos saber que o senhor de Apokolipse busca uma substância chamada Equação Anti Vida, que lhe permitiria controlar a mente de todas as pessoas. Os dois mundos estão em constante guerra devido a essa busca de Darkseid ao seu El Dourado, pois Pai Celestial, o comendante de Nova Gênese sabe o perigo de ter um ser tão poderoso em posse do artefato mais importante existente.
Desta forma um pacto é proposto, de que eles fariam uma troca equivalente, para que pudessem pacificar seus reinos por assim dizer, a troca exigia que um filho de Darkseid seria criado em Nova Gênese e um filho de Pai Celestial seria enviado a Apokolipse, e assim aconteceu, Vemos Órion ser doutrinado pelo Pai Celestial enquanto Scott foi jogado nos campos de escravos do Sobreno Darkseid.
A história da criação dos Novos Deuses começou quando Kirby trabalhava na Marvel, não é segredo que ele é co-criador da maioria dos heróis renomados da editora, como Homem de Ferro, Hulk, Thor, Homem Aranha, Quarteto Fantasístico, X-Men, Surfista Prateado, Doctor Doom e muitos outros importantes na editora. Quando ele escrevia as mini histórias no final das edições de Thor, de seu próprio roteiro e arte, chamadas "Tales of Asgard", ele teve a ideia de fazer um arco sobre Ragnarok e acabar com o Panteão de Thor, o que o foi negado por Stan Lee puma vez que esse tipo de roteiro não seria “comercial” o suficiente. Após este desentendimento Kirby decidiu sair da editora, buscando novos projetos em lugares onde suas idéias seriam aceitas, então fez um acordo com os engravatados da DC, ele escreveria três títulos de sua própria autoria, e pegaria a revista de um personagem difícil de se trabalhar e que não fazia nenhum sucesso. E foi assim que ele iniciou seu trabalho na DC com a revista solo do Jimmy Olsen.
Na primeira pagina de “Novos Deuses 1”, é possível ver que houve uma batalha, entre antigos e novos Deuses, aos que a vitória foi merecida por quem dava titulo à revista. Os títulos que Kirby iniciou na editora foram: Novos DeusesPovo do Amanha e Senhor Milagre. Em todos eles ele deixava pequenos easter eggs mostrando que os Deuses antigos quais os novos subjugaram foram os Deuses Nórdicos de Asgard. Em uma edição onde é achado o elmo de batalha de Thor, Kirby fala através de seu personagem a seguinte alegação “Essa é a continuação do que eu criei lá, era isso que eu queria fazer. Matar Deuses antigos e criar novos”.

O quarto mundo trouxe uma perspectiva inteiramente nova pra produção de quadrinhos, vemos aqui conceitos de filosofia e cosmogonia. Muito mais densos do que a sociedade da época estava acostumada a ver nesse formato. Sua ideia inicial era criar uma história com começo, meio e fim para assim decidir o que faria com seus personagens sem a intromissão de terceiros, o que não foi possível. Não tinha como ser, os conceitos eram bons demais para serem abandonados, por isso passaram a ser integrados dentro do Universo DC.
Quando o ultimo dos Velhos Deuses morreu, nova vida foi criada e com ela veio o nascimento dos Planetas Gêmeos: Nova Gênese Apokolipse, eles orbitam a mesma estrela, possuem a mesma atmosfera e biodiversidade sendo diferentes apenas nos povos que os habitam. A capital de Nova Gênese é uma cidade flutuante e reluzente conhecida como Supercidade, uma utopia pairando acima das nuvens onde vivem os seres dotados de imortalidade, os Novos Deuses. Na liderança dessa civilização vemos Pai Celestial, um líder nato dotado de sabedoria e conhecimento, Pai Celestial lida com uma poderosa consciência mística que se reporta apenas a ele conhecida como a Fonte.
Com o passar dos milênios Nova Gênese prosperou com toda sua tecnologia, sua fauna e flora são preservadas para que nunca nada se extingue, já Apokolipse, se tornou um pesadelo industrial depois que seu Deus sobreano esgotou todos seus recursos naturais, hoje o planeta só “prospera” devido a quantidade de escravos em seus campos de concentração.

Devido a divergências de direções entre os encarregados por cada mundo, eles decidiram fazer um pacto a favor da paz, onde, já expliquei antes, o filho de um foi aprender os costumes do planeta do outro, para que assim as negociações tornassem-se mais plausíveis na realidade de cada um. Mas é claro, ninguém decide semear a paz após séculos de guerra apenas por divina iluminação, há algo mais ali. Darkseid planeja extrair toda informação possível de Scott sobre Nova Gênese e assim travar uma estratégia de invasão a cima de qualquer erro. Já Pai Celestial, aceitou essa troca, pois há uma profecia que diz que Darkseid cairá apenas pelas mãos se sangue do seu próprio filho. Pai Celestial não apenas assume a tutela de Órion, como também o doutrina para ser um excelente guerreiro e contrário a todos os ideais de seu pai.
Scott tem um destino muito diferente do de Órion, ele é levado às masmorras de Apokolipse e entregue à Vovó Bondade, uma general de Darkseid encarregada de fazer com que todos que passem pela suas mãos saiam fieis ao Senhor Soberano. Scott é o único capaz de fugir deste pesadelo, e assume para si o codinome de Senhor MilagreMestre das Fugas, esse nome era o nome artístico de um grande mágico que se apresentava na cidade em que Scott estava, porém em um truque ele acabou morrendo e Scott assumiu sua identidade tal como seu traje.
Há boatos de que Senhor Milagre era inspirado no próprio Kirby, ele usa neste personagem traços de sua personalidade e referencias autobiográficas metafóricas em suas histórias. Scott também se relaciona com uma Fúria exilada de Darkseid, Fúrias são o exercito de mulheres seguidoras de Darkseid, as mais belas, mais letais, mais fortes e fiéis se encontram ali. Elas são o exercito pessoal do líder de Apokolipse, obedecendo quaisquer tipo de ordem que o magnata as dê. Grande Barda, que dizem ser inspirada na mulher de Kirby, uma mulher decidida que apoiava o marido no que ele precisasse e se ele achasse que não conseguiria fazer algo, ela mostrava a ele que ele conseguiria sim, uma mulher dotada de muitos ideais e agressividade.

5 comentários:

  1. Muito bom, Carolina! Sanei muitas dúvidas que tinha nesse universo graças a você. ;)

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    1. Nossa, jura? Ah muito obrigada! Fico muito feliz que meu amor por quadrinhos tenha ajudado nas suas dúvidas hahahah (:

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  2. Onde está o Povo do Amanhã?

    Senti falta deles na matéria incrível que escreveu.

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    1. Então Jackson, fiz o possível para fazer uma análise breve então tive de optar por diminuir alguns conceitos. Mas PROMETO queno próximo PTDM estarei muito atenta para nada faltar (:

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  3. Carolina, muito bom texto. Se me permite uma contribuição, o Sr. Milagre não foi inspirado em Kirby, mas, sim, em seu amigo JIM STERANKO, também um dos maiores nomes da indústria dos quadrinhos e responsável por importantes e célebres fases do Capitão América e Nick Fury; Steranko, além de um excelente roteirista/ilustrador, era, também, um mestre escapista, a exemplo de Houdini, realizando fugas verdadeiramente "milagrosas" que sempre encantaram Jack Kirby, e que o levou a criar o personagem Scott Free, vulgo Senhor Milagre, em homenagem ao amigo. Outro detalhe interessante foi que no desenho "LIGA DA JUSTIÇA SEM LIMITES", teve uma história que mostrava Apokolips e a origem do Sr. Milagre... e essa história teve seu roteiro escrito por ninguém menos que o próprio JIM STERANKO.
    Uma vez mais, parabéns pelo excelente texto.

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